Configurada como um conjunto de ações coletivas realizadas com grupos de mulheres de diferentes gerações, Práticas performáticas / Experiência Clínica é a resposta a um sonho noturno no qual a artista se mantinha em uma espécie de festa-cárcere dominado por forças que transformam opressão em cenários aparentemente confortáveis e seguros. Neste ambiente ambíguo, os gestos cotidianos carregavam marcas invisíveis de controle e dominação. No meio do ambiente de reclusão e domínio, outra mulher apareceu como a mãe que protege e liberta. Daí propor a criação de um espaço seguro para mulheres promoverem cumplicidade e intimidade com processos criativos. A experiência se organiza como um campo de escuta e invenção, no qual a prática performativa se entrelaça a um exercício clínico de atenção e presença, propondo a elaboração de narrativas silenciadas, assim como o restauro de memórias, sensações e desejos apagados por formas sutis de coerção afetiva e social.

Não se trata de reviver traumas, mas de reconstituir territórios internos, nomear e reconfigurar os contornos da própria liberdade. Com isso, o projeto se desdobra em um programa de encontros para que haja o fortalecimento e vínculo entre as participantes sobre a capacidade de sonhar outras formas de vida. Nesse percurso de encontros, em resposta ao sonho da artista, o diálogo e a cumplicidade se tornam chaves para inventar saídas ao intransponível. Realizado ao longo dos últimos anos, o processo tem se intensificado desde que a artista integrou o Coletivo Red Threads, dentro do qual ela promove encontros nos quais tecelagem, impressão de imagens com o sol e desenhos em campo expandido promovem testemunha e partilha de saberes que ampliam o horizonte de espaços concretos e simbólicos que persistem em limitar a vida cotidiana.