Guri Guru parte do pressuposto que o corpo se adapta, no curso do tempo, ao ambiente em que está inserido. Sendo um dispositivo móvel, acolhido por corpos anônimos em museus, espaços públicos e ambientes corporativos, a experiência “plurissensorial” – termo emprestado pela artista das proposições que Hélio Oiticica inaugurou na década de 1960 – tende a interagir com o ambiente em que Guri Guru é instalado. Sua essência nômade e adaptável desafia fronteiras, fazendo com que o ato de vestir o tecido-invólucro instaure cumplicidade entre o grupo de participantes encobertos. Os corpos ativam de dentro para fora um convite a reduzir a influência de molduras que enquadram o ambiente externo e definem identidades, projeções e desejos. Assim, a orientação do corpo e da mente deixa de ser exclusivamente guiada pelo ambiente, surgindo de sensações, vivências e memórias longínquas. De fato, enquanto “Guri”, palavra de origem guarani, remete à criança que carregamos, quem frequentemente aparece e se recolhe, “Guru”, palavra sânscrita, invoca sabedoria, intuição e a capacidade de perceber enigmas, dilemas e experiências existentes em campos sensíveis e metafísicos. Neste contexto, Guri Guru é criado pela sonoridade das palavras que evoca brincadeira e sabedoria. Para além da experiência jocosa e libertadora, a proposição cria um estado de suspensão de nossas identidades que correspondem e se moldam ao ambiente externo.
Guri Guru
2018–2025
Guri Guru, 2024 Série fotográfica; Barry University, Miami, USA